Fogueiras

Depois que um grupo de radicais de direita e moralistas forçar o fim de uma exposição de arte no Santander Cultural (é espantosa a incapacidade da empresa de resistir à pressão de um pequeno segmento, desprezando o interesse de muitos outros), o que nos resta?

Logo, logo, veremos turbas invadindo livrarias para queimar livros, como se vê no filme Fahrenheidt 451, baseado no romance de Ray Bradbury.

O que se percebe no Brasil de hoje é assustador.

Por sinal, para reflexão de todos, vou aproveitar para divulgar aqui um excelente texto do professor, escritor, especialista em História da Arte, Afonso Medeiros, sobre a inacreditável decisão de encerrar a exposição de Porto Alegre:

“(…) É bem conhecida a prática nazista de “condecorar” alguns artistas como produtores de “arte degenerada” e queimar suas obras em praça pública, pelos mesmos motivos alegados pelos “críticos” das redes sociais: pornografia, atentado à moral e avacalhação dos nobres valores cristãos.

Retrocedendo ainda mais, não custa lembrar que o “David” de Michelangelo foi apedrejado quando exposto em praça pública; que a “Venus de Urbino” de Tiziano foi considerada a imagem mais indecente do Ocidente por mais de trezentos anos; que Paolo Veronese teve que encarar um processo diante do tribunal da Inquisição por “interpretar licenciosamente as sagradas escrituras”; que Goya também sofreu um processo da Inquisição espanhola por causa de “La Maja desnuda”; que “A origem do mundo” de Courbet só passou a fazer parte de um acervo público (Museu D’Orsay) mais de 100 anos após sua criação e que a reprodução dessa mesma obra foi retirada do site da Academia Brasileira de Letras há pouco anos atrás. E mesmo artistas brasileiros já foram alvos dessas sandices – que o diga MárciaX. Em todos esses casos, a alegação dos mesmos motivos: “atentado ao pudor, à moral e aos bons costumes”, “deseducação das nossas crianças”, “perdição”, “escândalo”, “pornografia”, “heresia”…

Portanto, não estamos lidando com nenhuma novidade. A arte e os artistas sempre enfrentaram os retrógrados, os conservadores e os pudicos hipócritas de plantão – quem nunca gozou com imagens explícitas do sexo e da sexualidade, que atire a primeira pedra! (…)”

 

Sobre mariomarcos

Jornalista, natural de criciúma, fã incondicional de filmes, bons livros e esportes
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31 respostas para Fogueiras

  1. Fifaldino disse:

    Realmente, estamos definitivamente voltando aos tempos sombrios da censura. E pior…. promovida por uma camada idiotizada da “sociedade”.

    Acharam a tal exposição uma porcaria? Beleza. Vai nela quem quer. Não é na rua. É um local privado. Segue o baile e pronto.

  2. Jose Luiz Oliveira disse:

    Não pertenço a nenhum grupo, mas que exposiçãozinha mais feia e de grande mau gosto !

    • mariomarcos disse:

      Não é o gosto pessoal de cada um que está em discussão. Arte é assim, não agrada a todo mundo. É a pressão para fechar um museu, tipo de atitude macartista, obscurantista. Há obras de todo tipo nos grandes museus do mundo, muitas que escandalizam ou chocam, mas ninguém tenta nem cogita fechar um museu.

  3. analista disse:

    Mas o debate é interessante… liberdade de expressão e tal… e se tivessem expostas obras fazendo apologia ao racismo, a atos violentos contra crianças, certos atos religiosos que violentam partes íntimas das mulheres, ao terrorismo e à tortura, nazismo, fascismo, holocausto… e por aí vai… mesmo assim tudo poderia, poderia tudo? É proibido proibir qualquer coisa??? Interessante o debate… mas não é simplório como afobados apontam…

    • Fifaldino disse:

      Correio do Povo (12/09/2017):

      Em entrevista à Rádio Guaíba na manhã desta terça-feira, o promotor da Infância e Juventude de Porto Alegre, Júlio Almeida, afirmou que “não há nenhuma referência à pedofilia” na exposição “Queermuseu”, encerrada pelo Santander Cultural no último domingo. Motivados pela repercussão do fechamento da mostra, Almeida e a coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Família e Sucessões, Denise Villela, visitaram o espaço localizado no Centro de Porto Alegre na segunda-feira e obtiram acesso a todo o material da mostra que tem curadoria de Gaudêncio Fidelis.

    • Miguel disse:

      O debate é mesmo interessante.
      Interessante também, como tudo pode ser visto por dois, ou mais, ângulos.
      Se houvesse uma gravura (ou qualquer imagem) de um negro sendo chicotado , estaria retratando um fato do passado ou seria apologia à tortura e ao racismo?

  4. andreas boos disse:

    Eu penso o seguinte, se a exposição eh em um lugar fechado e com finalidade somente para tal então nao vejo problema. Cada um chama de arte o que lhe apraz. Eu não gosto desse tipo de arte que estava exposto. Por esse motivo não iria até esse espaço. Agora se o conteúdo exposto esta em um local com outra finalidades tambem (um shopping por exemplo) ai sou totalmente contra pois nesse tipo de espaço circulam, tambem, por exemplo, crianças. Detestaria passar por uma “obra de arte” dessas e ter que explicar pra minha filha, criancinha de tudo, do que se trata coisas bizarras como as expostas la.

  5. sandrosaci disse:

    E se fossem obras de apologia ao nazismo eu me revoltaria e faria o mesmo papel dos reacionários quanto a essa exposição? A resposta é sim. Mas uma coisa é comportamento social,íntimo, privado, pessoal, enaltecimento das liberdades e outra coisa é violência, agressão, genocidio, morte, supressão das liberdades. Diferenças facilmente perceptíveis

  6. 66 disse:

    Ou existe liberdade de expressão, ou não existe.
    Não tem como fugir disso.
    O meu gosto pessoal ou o que eu acho ofensivo ou agressivo, NÃO pode balizar o que as outras pessoas tem direito de ver.
    Vamos parar com essa hipocrisia nojenta.
    Quem é o MBL pra determinar o que a sociedade pode ou não pode ver??
    Vai lá quem quer.
    E o Santander foi muito bunda-mole. Abriu um precedente para que esses debiloides decidam daqui pra frente, o que a população pode ver ou não. Se a exposição for polêmica, vão pedir autorização pro MBL?? Mas era só o que faltava.
    Eu achei a maioria das obras feia. Mas baseado no meu conceito de beleza.
    Ninguém entende porcaria nenhuma de arte e de repente tá todo mundo dando pitaco sobre arte.
    E não se trata de que é “proibido proibir alguma coisa”. Já existe um “código de ética” social onde limitam o acesso a determinadas atividades baseado na idade. Ninguém reclama disso.
    Basta ver uma novela da rede Globo, que entra em todas as residências mostrando tudo de podre que existe na sociedade, mas que por ser protagonizada por gente branca e bonita, passa batido.
    Se revoltam mais com um quadro do que com as malas do Gedel.
    Sociedade podre mesmo.
    Trabalho junto com um senhor de 65 anos, que descobriu recentemente estar com câncer nos rins.
    E pasmem..precisa adquirir duas caixas de um remédio que custa nada mais, nada menos do que R$ 8.000,00. Isso mesmo. OITO MIL REAIS. Caixa com 60 comprimidos. Isso dá R$ 133,00 por comprimido. Duas caixas dá R$ 16 MIL REAIS.
    Obviamente que ele não dispõe desse dinheiro.
    A roubalheira tomando conta de tudo e tem imbecis com tempo pra brigar contra uma exposição.
    Haja saco.

  7. alessandro machado disse:

    nada que um pouco de “classificação indicativa” não resolvesse..
    realmente muitas obras não eram próprias para menores de idade..
    de resto, muito mimimii para pouca coisa, não vi absolutamente nada de chocante ou absurdo..
    em um estado que convive com decapitações quase que semanalmente e com adolescentes cavando a sua própria cova antes de serem queimados vivos… casos, estes sim, que mereceriam grandes manifestações.. nada mais é do que uma grande hipocrisia…
    criança traficante é desimportante

    • alessandro machado disse:

      ps. o santander poderia somente ter restringido a entrada de menores na exposição ou então ter separado as obras mais obscenas em uma área específica para maiores de idade…

      • fred disse:

        Ou ter feito exposição com o seu dinheiro e não usandoo essa lei Rouanet.
        Mas, como vale tudo pela causa…

      • mariomarcos disse:

        Com a mediocridade dos administradores brasileiros, não haveria nenhum evento cultural no Brasil sem a lei. Certamente vocês que falam tanto sobre ela devem saber como funciona. É preciso ter um projeto aprovado no organismo federal e, a partir daí, os próprios produtores partem em busca de patrocinadores. Quem é convencido, financia e abate dos impostos a pagar, com um limite que não pode ser ultrapassado.

      • Rafael disse:

        A arte contemporânea abriga vários tipos de vigaristas, mas o tempo dirá quem realmente tem qualidade ou não. Não é essa a questão principal.
        O problema foi terem montado uma mostra artística com obras evidentemente impróprias para menores sem a devida classificação indicativa ou algum alerta na entrada. Houve um flagrante desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente, jogando a exposição na ilegalidade.
        E, para complicar ainda mais a situação, tudo foi feito com dinheiro público. Ora, quem paga a conta e/ou vislumbrou alguma ilegalidade tem todo o direito de manifestar sua inconformidade.
        A sociedade simplesmente não se omitiu. Os protestos, por mais enfáticos que tenham sido, ocorreram dentro da civilidade. Não houve censura nem qualquer outro tipo de violência como o texto erroneamente sugere. O banco, ao invés de providenciar os devidos ajustes, resolveu fechar a exposição por iniciativa própria, demonstrando que suas convicções eram frágeis.

      • mariomarcos disse:

        Houve sim. Houve censura, ameaças, intimidações, pressões ao banco, tudo de acordo com o manual dos intolerantes. A isso juntou-se a covardia do banco. Exposição frequenta quem tem interesse. É uma vergonha o que aconteceu em Porto Alegre. Pior vai ficar nos próximos dias, quando a exposição banida daqui por um obscurantismo doentio for para Belo Horizonte ou Brasília, duas que já manifestaram interesse em levar as obras para lá.

      • alessandro machado disse:

        O problema é que começaram a misturar a velha dualidade coxinha x petralha, sabemos muito bem que o que menos preocupava essas pessoas eram as criancinhas e sim a sua necessidade de vomitar os velhos preconceitos e babaquices, tanto é verdade que estavam lá vestidos de bolsominions, vários homens brancos idiotas e velhas de 300 anos de idade.. contra os alunos da ufrgs.. ahhahahhaa
        é uma piada na verdade…
        ninguém queria resolver a questão q era simplesmente de classificação indicativa e nisso todos nós concordamos, gostando ou não da amostra (eu nem vi, não posso opiniar)

        a amostra contava com autores consagrados, como alfredo volpi e candido portinari..
        o que já demonstra a irracionalidade dos que dizem que era “tudo uma porcaria”
        a intenção era polarizar…
        e esse MBL é um câncer que deveria ser extirpado, principalmente depois que recebeu dinheiro do DEM….
        enfim.. está tudo errado, se quisessem realmente resolver teriam limitado a exposição para maiores e pronto
        quanto ao dinheiro público, é complicado, pois se não tem cultura reclamam e se tem cultura reclamam..
        empresa privada não tem interesse em jogar dinheiro fora, só investem se for para ter algum benefício fiscal..
        portanto é o estado ou nada..
        a lei rouanet com certeza é uma caixa preta medonha que entregou milhoes na mão de ivetes e demais lixos…
        agora.. é como tudo nesse país, mais uma falcatrua, no caso da exposição , não sei se realmente houve alguma apropriação indevida de recursos públicos
        ademais, o santander que deveria pagar os eventuais danos causados pelo fim prematuro da exposição
        acho que a exposição deveria voltar, com a parte mais obscena exclusiva para maiores e acabar com esse clima obscurantista que foi gerado..
        pois isso é uma semente muito perigosa para ser cultivada..

      • fred disse:

        Ora, ora, ora. Nenhum evento cultural sem a lei?
        Antes desta lei (me parece ser de 1991) não existiram eventos culturais no país?
        Impostos geram o dinheiro público.
        Esse dinheiro não seria melhor aplicado em outras áreas ?

      • Rafael disse:

        Fred, antes dessa lei havia efervescência cultural em várias áreas. Os grandes movimentos artísticos no Brasil são anteriores à sua promulgação. Se ela não é a responsável pelo declínio cultural brasileiro, também em nada ajudou para melhorar o quadro.
        Dinheiro público usado para financiar artistas medíocres e — gravíssimo — muitas vezes já famosos e abastados, é uma deformação do estado, que tira recursos de áreas prioritárias e carentes para agraciar seus apaniguados.
        Para completar a situação, quando a própria mídia confunde deliberadamente boicote com censura, demonstra sobejamente que a sociedade precisa reagir (civilizadamente) a essa escalada do ativismo com interesses escusos.

      • mariomarcos disse:

        Não haveria nenhum problema em boicotar, em fazer pressões nas redes sociais, em organizar manifestações públicas. Isso é bem diferente de pessoas entrarem no museu,
        intimidarem frequentadores, pressionar para que não vejam as obras e, contrariando o regulamento de qualquer museu, filmarem o ambiente para depois usar nas redes sociais como forma de constranger. Isso levou à censura e à atitude constrangedoramente covarde da instituição cultural.

      • Rafael disse:

        Pelo visto continuarás com essa narrativa fantasiosa de que houve violência e censura. Não há problema algum em um jornalista ter opinião. O problema é quando ele abandona a descrição da realidade dos fatos para abraçar o ativismo político. Perde a sua própria credibilidade e fere também a credibilidade da categoria. Mas, como vivemos a era das fake news…

      • mariomarcos disse:

        Estás enganado. A tua opinião não vai pautar a minha, apenas porque tu achas que está errada. Não tenho nenhuma dúvida sobre esta questão, mas todos são livres para pensar diferente. Livres até para apoiar o MBL.

      • Rafael disse:

        Pautar? Longe de mim. Apenas discordo de sua posição.
        A propósito: apoio o Ministério Público.

  8. Ricardo disse:

    “Não houve censura nem qualquer outro tipo de violência como o texto erroneamente sugere”, perfeito Rafael, o Santander sentiu-se acuado.
    Outro ponto é o do $$$ da Lei Rouanet.

  9. 66 disse:

    Os opositores á exposição em nenhum momento firmaram posição quanto á necessidade de classificação etária para impedir o acesso das pessoas.
    A manifestação foi baseada em critérios pessoais e portanto absolutamente subjetivos sobre o que é ofensivo, preconceituoso, incentivador da violência e outras abobrinhas.
    Descobrimos que temos entre nós gente capacitada pra dizer que algo é perigoso e é bom que ninguém veja.
    Ora..vão pro inferno.
    Quando a lei Rouanet enche a conta de artistas renomados, ninguém dá bola e pode “rolar a festa”.
    Quando veem a Juliana Paes traficando drogas na novela das 9, não tem problema porque a manada não raciocina.

  10. INTERminavel COLORADO disse:

    Penso, e talvez muitos pensem como eu, ou não, que os (a)filiados do MBL deveriam entregar TODOS os cargos de CCs que este movimento – que se diz ou dizia ser apartidário – recebeu nas prefeituras, estados e governo federal, após o impeachment de Dilma. Isso faria um grande bem ao país…

  11. INTERminavel COLORADO disse:

    A título de informação aos desavisados, HOUVE por parte da Curadoria a preocupação com classificação etária para a mostra do QUEERMUSEU, cuja idade mínima era de 16 anos. Escolas deveriam previamente agendar visitas, já sabendo que menores de 16 anos não poderiam frequentar. Menores de 16 anos, que deveriam apresentar documento, não poderiam entrar nem com a presença dos pais.

    Quanto ao resto, bem, Porto Alegre, a maior cidade provinciana do Brasil, ficará na história como a cidade que censurou a arte, a qual foi banida de um museu por pura intransigência, ignorância, de um movimento conhecido como MBL – Movimento Bando de Lasqueados. É isso!

  12. Pretensos liberais e o caso Santander:

    – Criticaram isenção de imposto.
    – Se melindraram por questões religiosas.
    – Realizaram patrulhamento ideológico.

    Cuidado rapaziada! Daqui a pouco um liberal purista vai utilizar o revisionismo político para rotulá-los de esquerdistas! O Bolsonaro já foi reclassificado!

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