Caçapava, o homem que zelava pelos zagueiros

Um dia, Figueroa, maior zagueiro da história do Inter, disse o seguinte:

– Com Caçapava na minha frente, eu jogo até os 50 anos.

O chileno sabia bem. Desde que subiu da base, Caçapava era uma espécie de barreira à frente da zaga. Tinha força física, energia, técnica e sabia, como ninguém, a suavizar a vida dos zagueiros.

Caçapava, o volante que também marcou época nos anos 70, morreu no início da manhā de segunda-feira. Sofreu um infarto fulminante aos 61 anos.

Ele jogou no Inter entre 73 e 79, ganhou títulos gaúchos e esteve nas conquistas do Brasileiro. No primeiro deles, em 75, na véspera da partida contra o Fluminense, no Maracanā, o técnico Rubens Minelli reuniu os jogadores e colocou dois esquemas em debate.

Um tinha Escurinho, mais ofensivo. O outro incluía Caçapava e a marcaçāo forte para controlar as movimentaçōes de um adversário que tinha Rivellino, Pintinho, Caju e outros grandes jogadores.

Os argumentos de Minelli convenceram o grupo. O Inter entrou com Caçapava, dominou a chamda Máquina do Fluminense, venceu por 2 a 0 e chegou à decisāo contra o Cruzeiro, no Beira-Rio.

– Eu mostrei a ele como era o drible do Rivelino e como marcar – lembrou Falcāo em entrevista a ZH. – Eu dizia: ‘Ele vai levar para a direita, mas vai sair para a esquerda’. Na primeira bola que o Riva pegou, deu elástico e o Caçapa deu no meio dele. Aí ele me explicou: ‘sabe o que é Paulo? Eu fiquei na dúvida e fui no meio dele’. Era aquela figura que eu aprendi a admirar.

Nāo é só. Rivellino lembra até hoje de um treino da Seleçāo em que enfrentou Caçapava, também convocado, que estava no time reserva. Riva nāo conseguiu tocar na bola. Caçapava ganhava todas.

Caçapava era assim. Incansável. Pela força, sempre carregou a imagem de que nāo tinha técnica. Era um engano. Era também um volante técnico, de qualidade, que tinha chute forte, bom passe e, em alguns momentos, lançamento – e só por isso, por ser dono de uma grande técnica, se entendia perfeitamenfe com Falcāo e Carpegiani, dois jogadores que esbanjavam qualidade.

Ele foi sepultado em Caçapava.

 

 

 

Sobre mariomarcos

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16 respostas para Caçapava, o homem que zelava pelos zagueiros

  1. 66 disse:

    Encontrei o Caçapava naquelas festividades de reinauguração do Beira-Rio. Tirei fotos e conversei um pouco com ele. Sujeito simples e atencioso. Gente muito boa.
    Tive a sorte e o privilégio de ver esse timaço da década de 70.
    Que descanse em paz.

    • Fifaldino disse:

      A Guaíba reproduziu agora há pouco um gol do Caçapava. Era o primeiro gol (marcado aos 35 segundos de jogo) da goleada de 14 x 0 do Inter sobre o Ferro Carril de Uruguaiana pelo Gauchão de 76. Apesar de eu ainda ser piá, eu lembro desse jogo…. ou pelo menos da montanha de gols, não do jogo propriamente dito.

      • Marcon disse:

        Nesse jogo, me lembro que o treinador do Ferro Carril deu entrevista no final do jogo reclamando do arbitragem porque, segundo ele, no 11º gol o jogador do Inter estava impedido e o bandeirinha(na época) não marcou… kkkkkk

      • Marcon disse:

        * da arbitragem

  2. Marcon disse:

    Se não estou enganado, Caçapava surgiu no time titular do Inter numa excursão pela Europa em 74 e marcou gol(s). Quem tiver o arquivo confirme se estou certo. Lembro também que ele não jogou uma partida contra o São Paulo no Morumbí e Figueroa sofreu muito… era o legítimo “centromédio” e sozinho dava combate na frente da zaga, grande jogador!

    • Maurício disse:

      Exatamente, inclusive foi o ‘centromédio’ Bola de Prata de 78.

      Li em algum lugar que ele morria de medo de cirurgia, e que certa vez, ao ser prevenido pelo médico colorado após um exame de que precisaria sofrer uma artroscopia, teria dito ‘mas doutor, meu joelho tá bom, não sinto nada, esse exame deve ser o do joelho do Batista…’ kkkkkkkkk

    • Rafael disse:

      Ele era atacante de origem, por isso tinha boa técnica. Minelli percebeu seu potencial de marcador e o colocou de centromédio, onde chegou ao status de grande jogador.

  3. Janete disse:

    Que Deus o receba e sua alma descanse em paz Caçapava… A nação colorada jamais te esquecerá!!!!!

  4. Fifaldino disse:

    Há poucos dias cruzei com o Caçapava entrando num taxi na saída de um jogo. Grande figura!!! Que descanse em paz!!

  5. analista disse:

    Que descanse em paz! Ídolo dos colorados!

  6. BAGUAL, O ORIGINAL disse:

    Tive o prazer de vê-lo jogar, e o conheci numa festa consular aqui onde moro. Figuraça, atencioso com todos, diferente do Marrento do Claudiomiro.

  7. Kiko Marques disse:

    Sou gremista, mas acima de tudo um futebolista, principalmente nesta o era nesta época. Por isso não tem como não admirar aquele grande time colorado dos anos 70. Era o tempo de um futebol muito diferente do de hoje. Tempo em que se sentava na nas arquibancadas de concreto do Beira-Rio ou Olímpico para se ver craques de verdade em campo. Hoje se vai para estádios que são verdadeiros teatros para se ver uma bando de pernas-de-pau que acham que jogam muito. Vai com Deus Caçapa. Não sei nada da vida dele nos últimos anos. As últimas notícias que soube, me davam conta de que ele havia virado Pai de Santo. DIvergências religiosas à parte, desejo que descanse em paz, pois ele faz parte de belas lembranças de minha infância, como por exemplo, o único GreNal que assisti na minha vida. Na companhia de meu pai e de meu irmão mais velho. Beira-Rio, 1976. Depois do Inter, Caçapava foi para o Corinthians, onde jogando à frente do goleiro Jairo, dos laterais Zé Maria e Vladimir, e dos zagueiros Mauro e Amaral, todos negros, formou a chamada “Muralha Negra” do timão.

    • Fred O Calmo disse:

      Tempo em que se sentava na nas arquibancadas de concreto do Beira-Rio ou Olímpico para se ver craques de verdade em campo. Hoje se vai para estádios que são verdadeiros teatros para se ver uma bando de pernas-de-pau que acham que jogam muito. (2)

  8. Ricardo - DF disse:

    Era terrível aquele Inter de 74 e 75. E o Caçapava fechava o meio campo, um paredão. Grande jogador.

    Era outra época mesmo. Os grandes jogadores permaneciam nos nossos times. Ancheta e Figueiroa, a melhor zaga de uma seleção gaúcha (nunca mais vimos…) ficaram anos em POA.

    Hoje qualquer jogador meia boca ganha uma fortuna, está entupido de tatuagens, usa cabelo moicano, se acha uma estrela e não joga metade do que aqueles craques jogavam.

  9. Kiko Marques disse:

    Hoje tem outra delegação de um time de futebol aqui no mesmo hotel que eu. É a equipe sub-17, de um clube da série B. Usam o uniforme do clube. Não se dão conta de que estão representando um clube, uma cidade e um estado. A maior bagunça no hotel e um monte de “guri” com cabelinho cheio de estilo. Nem existem ainda, futebolisticamente falando, e já estão se achando… E o que é pior: não vejo nenhum adulto chamando a atenção meninos para o comportamento deles.

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