A carta de Cerezo: “Meu menino, minha menina pra sempre”

A edição de março da revista Lola Magazine, da editora Abril, traz um depoimento tocante do ex-jogador Toninho Cerezo. Depois de semanas de conversas com Lucas Landau, colaborador da publicação, Cerezo resolveu falar pela primeira vez sobre o filho nascido Leandro, mas consagrado no mundo da moda como Lea T, modelo de grifes famosas e capa de inúmeras revistas internacionais.

No ano passado, quando surgiu a notícia de que Lea T tinha o sobrenome Cerezo, o ex-jogador recusou todas as tentativas de falar sobre o filho. Desta vez, abriu o coração na forma de uma carta emocionante de pai – que teve um resumo publicado por Falcão em sua coluna de Zero Hora de domingo. Falcão estava claramente (e com razão) comovido com o amigo e ex-parceiro de Roma e Seleção.

O depoimento foi feito em forma de uma carta sensível e carinhosa, escrita pelo próprio Cerezo e divulgada em duas respeitosas e bonitas páginas da revista. Ali está um pai que conseguiu vencer os preconceitos, enfrentar suas próprias aflições e falar com orgulho sobre o filho.

Aqui está um trecho da carta:

DOIS FILHOS EM UM

Qual pai um dia não pensou desta maneira? Como seria bom se existisse um manual completo, que ensinasse e orientasse como ser pai em todas as etapas da vida dos filhos?

Por mais que existam livros, manuais, conselhos bem-intencionados, a grande verdade é que exercer a paternidade vai muito além de conselhos e teorias. Todos sabem que cabe à paternidade uma parcela da responsabilidade de cuidar, educar, proteger e preparar os filhos para o ingresso na sociedade.

Mas a alma humana é muito complexa, e estamos bem longe de saber tudo o que esse ser mutante chamado Homem é capaz de fazer, querer e ser…

Meu menino, minha menina pra sempre, eternamente, os dois serão meus.

Ainda no ventre, Leandro foi um filho esperado e amado. Na sua infância, seu sorriso doce e os cabelos cacheados não me indicavam qualquer tendência, era apenas uma criança, era apenas meu filho.

Com o passar dos anos e a chegada da adolescência, conheci, na intimidade e nos momentos que passamos juntos, seu jeito diferente – a clara ausência de predileção por brincadeiras masculinas. Percebi interesse por assuntos ligados à arte e ao universo feminino (…)

Apesar de notar as diferenças, percebi também que nada poderia fazer, e tudo o que poderia dar a ela/ele era o meu amor incondicional, a segurança, o conforto e a certeza de que, em qualquer circunstância, por mais que longe, eu estaria sempre a seu lado (…)

Pode ser que eu tenha sido negligente como pai, mas não há motivos para frustrações. Não podemos ser bons em tudo. E você, Lea T. Cerezo, sabe muito mais que embaixadinhas. Teve coragem de, elegantemente, tentar quebrar paradigmas e mostrar ao mundo que devemos aceitar, sim, as diferenças, ser tolerantes com a diversidade, entender e não julgar aquilo que não conhecemos. O caminho pode ser longo, mas com certeza não será o mesmo depois de você (…)

Como diria o poeta Cazuza, “O tempo não para, não para, não, não para”, e filho crescido não cabe mais aos pais educar. Sendo assim, aqui ou lá, torço por você, Lea.

Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim.”

Sobre mariomarcos

Jornalista, natural de criciúma, fã incondicional de filmes, bons livros e esportes
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25 respostas para A carta de Cerezo: “Meu menino, minha menina pra sempre”

  1. andre disse:

    Muito tocante mesmo, só quem é pai conseguirá entender as palavras de Cerezzo. Nos deu uma lição de humanidade e humildade, parabéns ao Cerezzo e a vc MM por nos oferecer tão belo texto nessa segunda.

  2. bruxo disse:

    MM Li a coluna do Falcão (foi a da edição de sábado, né?); pois bem! bota tema polêmico; se trabalhar em sala de aula numa situação hipotética é difícil, imagine quando se individualiza o fato; mais! quando o pai é uma figura pública; aprofundando mais ainda; uma figura pública e carismática, querida dos brasileiros, italianos e japoneses. Fiquei comovido com o depoimento e com certeza, aumentou a minha admiração pelo Toninho Cerezzo (que vem desde os tempos do Nacional de Manaus, tempos em que a Revista Placar não sabia como grafar o seu nome, seria Cerezzo ou Serejo, lembra ?). Aliás, foi de Cerezzo a maior atuação individual dentro do futebol que vi em minha vida. Ocorreu no Beira-Rio à noite, ele fez dois gols e o Galo meteu três no colorado. Cerezzo usava chuteiras especiais, de lona (tipo jeans).Ganhou todos os prêmios de melhor em campo e o cumprimento de Falcão no fim do jogo. Este corajoso depoimento de agora, com certeza, superou esta atuação no Gigante. Um golaço do orgulhoso filho de um palhaço de circo. Parabéns também ao Falcão e a você.

  3. Guto Colorado disse:

    Prezado Mário

    Mudando de assunto o que tu me falas a respeito da não vinda do Liédson para Colorado devido a negativa do Celso Roth? O negócio estava praticamente fechado entre o Sporting,o Inter e os procuradores do jogador e o Celso Roth barrou a contratação. Enquanto isso, o Liedson acumula gos em todos os jogos do Corinthians. Até quando teremos que aturar a estupidez e mediocridade do Celso Roth?

  4. Alex disse:

    Tenho dó do Cerezo, deve ser uma barra das mais duras para um pai, tem um filho veado, essas transgressões de condutas são cada vez mais frequentes… Com o apoio da mídia… Lamentável!

    • andre disse:

      que pobreza de spirito meu amigo, lamentavel seu comentario.

      • Alex disse:

        Amigo, não sou hipócrita, tenho meu ponto de vista, e acredito nele, não preciso ser politicamente correto. Baseado na criação do ser humando, na família e perpetuação da espécie… cristão que sou, não acho “normal”! Ponto final.

      • Luiz M. disse:

        Alez, para um cristão, um pouquinho de tolerância não faria mal nenhum. Acho que estás precisando ler um pouquinho mais sobre a pregação e o pensamento de Jesus, se é que acreditas realmente nisso. Teu comentário é que é uma “transgressão” lamentável….

    • andre disse:

      Nao te chamei de hipocrita, apenas acho que um pouco de tolerancia e humanidade nao faz mal a ninguem, tambem nao concordo com muitas coisas, porem aprendi com os anos que jamais devemos julgar os outros, e cada um faz suas escolhas, e a vida meu caro, mas respeito sua opiniao tambem, um abraco.

    • andre disse:

      Desculpa a todos pelos erros de acentuacao e falta de algumas letras em portugues, estou teclando no laptop de meu filho, que nao tem nada disso…maldito teclado gringo..hahahaha, grande abraco a todos..gremistas e colorados.

    • Rodrigo R. disse:

      Pelo que o Alex escreve, ser cristão salva a rosca. Não ponho a mão no fogo nem por Jesus. Será que a Madalena poria?

  5. Marcus disse:

    Num mundo preconceituoso como ainda é o mundo em que vivemos só o amor (de pai, neste caso) passa por cima de qualquer coisa.
    O Bruxo disse bem: um golaço do Cerezo.
    Do Mário não me admiro mais e do Falcão também não. Como diria meu pai: o verdadeiro craque é aquele que SEMPRE é craque, não importa o que esteja fazendo.
    Mas ainda fica uma questão: por que a aceitação das opções individuais é algo tão difícil?
    Esta não é a causa básica de todos os conflitos? Às vezes disfarçados de dogmas religiosos, às vezes de conceitos político/partidários ou sociais. Não importa…
    Queremos que o mundo seja de acordo com o que achamos que ele deva ser (até mesmo livre de preconceitos…), mas como diz uma amiga: ao questionar a realidade você só perde em 100% dos casos.
    É algo como querer que um gato dê um latido… Você pode fazer o que quiser, mas ao final o gato vai fazer um sonoro “miaau”…
    🙂
    abs

  6. bruxo disse:

    MM e Marcus o que me deixa incomodado mesmo, não é a atitude de alguns condenando seres humanos que apenas são diferentes da maioria(afinal somos todos carregados de limitações), mas a utilização do nome de Cristo para justificarem o preconceito; justamente o nome “Dele” que jamais discriminou alguém, que circulava mais à vontade ao lado daqueles que frei Leonardo Boff corretamente chama de “excluídos da seleção natural”. Não estou criticando ninguém, apenas exteriorizando minha angústia diante daquilo que aprendi e do que creio ser o verdadeiro amor de Cristo.

  7. Rodrigo R. disse:

    Acho muito difícil que na Galiléia e em Nazaré de mais de 2 mil anos atrás se aceitasse homossexualismo. Havia demônios por todos os lados. Preconceito, ignorância, superstição e fanatismo eram regras. A moral cristã muda se adaptando à moral mundana de cada época (e a aceitando). Jesus, homem, viveu num contexto só (se é que existiu), que não era de modo algum tolerante. No tal amor de Cristo não cabia mariolas, mesmo que “Ele” mesmo fosse. Expandir esse amor é papel da Igreja, que inventa e reinventa Jesus Cristo, constituída de homens e mulheres comuns (inclusive gays), cheios de vicios comuns.

    • Marcus disse:

      Caro Rodrigo,
      não posso falar sobre 2.000 anos trás. Na verdade não consigo falar nem mesmo sobre como o mundo era ontem!
      Somos limitados e não percebemos tudo o que ocorre realmente. Nem mesmo à nossa volta.
      Mas posso falar sobre o impacto do que acontece em mim. Aí fica mais verdadeiro, não é mesmo?
      Mas concordo contigo. Somos todos, sem exceção, pessoas comuns. Alguns com algumas características, outros com outras. Pensamos que algumas são boas, outras ruins.
      Bom ou ruim são apenas julgamentos que dependem (como dissestes) de tempo, lugar e cultura. Se eles variam desta forma podemos considerá-los como verdade absoluta? Ou elas são verdades relativas?
      Se são verdades relativas morreríamos por elas? Acho que não.
      Para ilustrar um pouco, em Esparta o homossexualismo era aceito, por uma razão muito simples: os guerreiros não tinham como ter acesso às mulheres no seu período de treinamento. Se vires o filme “300” isso fica bem claro.
      Era ruim? Era bom? Não sei… Em Roma, era comum dentro do exército romano ou mesmo entre os nobres. Era ruim? Era bom? Não sei. Mas era assim.
      Acho que aceitação é a palavra. E a ação. Cerezo fala somente disso: aceitação. Ele não discursa a favor dos gays. Ele discursa a favor da aceitação do seu filho exatamente como ele é. Sem condições. É a perspectiva dele. Ele a assume com coragem e de forma verdadeira. E isso transborda pelas suas palavras…
      A isso damos um nome: amor. Mas ainda acho que dar um nome ou apelido é meio restritivo.
      Não importa o nome, mas a ação.
      Grande abraço
      Marcus

  8. João Luz disse:

    HABITAT DAS ALMAS

    Às vezes penso que piso meio forte no acelerador da radicalidade.
    Às vezes me calo pelo meio
    Às vezes nem freio.
    Como diz Lenine de forma clara.
    A vida é tão rara
    Assim vamos nós caminhando sobre o chão
    Abstraídos pela perfeição da ordem celestial
    Mesmo que o Hubble tenha nos indicado desde 1929 que não existem
    pontos mais nem menos importantes no universo, postulo que o ponto onde
    estamos é especial visto do Céu – assim, com C maiúsculo, não pelo éden,
    nem pelo infindo espaço – ou ainda pelo eterno tempo – de nosso
    universo, mas pelo desatrelamento de nossas consciências da realidade
    concreta, do lugar e do momento em que nos encontramos de corpo.
    Talvez um habitat das almas…
    Talvez um outro universo, atemporal e aespacial… Um olho que não vê, um ouvido que não escuta, uma pele que não sente, uma boca que não degusta, um nariz que não cheira… Um eu que nunca se completa…

  9. Rodrigo R. disse:

    Interessante os rumos que as conversas tomam, não? A coisa muda de foco desde uma bicha mundana excêntrica até abstrações poéticas crentes sobre o Universo.
    Deve ser o Carnaval, sim, deve ser o Carnaval. Na overdose de bundas e seios, ninguém é de ninguém e, sem receios, o pensamento se perde molhado e duro na escuridão do espaço sideral…

  10. Eloi Hettwer disse:

    Posso não gostar de várias coisas, posso não compactuar com tantas outras, posso não ser perfeito (e não o sou), independentemente de que ótica nos vemos. Janela não é espelho quando o reflexo que vemos é o da soberba e altivez, janela é espelho quando o que vemos é o reflexo de um ser humano, não melhor nem pior, igual a todos os outros, janela é janela quando o que vemos e percebemos – nela e além dela – o próximo. Ato de amor não tem peso, medida, cor, sexo, religião e qualquer outro meio comparativo dos seres humanos. Somos um pequenino grão de areia na imensidão deste universo, mas não somos insignificantes. Não sãomos insignificantes porque temos alguém que – por graça, nos ama e nos quer.

  11. Rafael disse:

    Entre tantas opiniões variadas quero dar meus parabéns a ti, Mário, por publicar um texto sobre algo que muita gente não tem coragem de escrever.

    Cerezo com toda simplicidade do pouco estudo que teve, escreveu um dos textos mais bonitos que já pude ler na vida, uma lição genuína de amor incondicional de pai e filho/a.

    Quem dera um décimo desses pseudointelectuais que gostam de comentar nos blogs alheios, tivessem a sensibilidade que o antigo volante da seleção teve ao escrever essa carta e viveríamos em um lugar bem melhor…

  12. João Luz disse:

    Alô MM, salve salve rapaziada,
    Perdoem-me, mas essa mania de abstrair acaba facilmente me levando ao mundo da distração. Como o Bruxo sabiamente bem cantou a pedra outro dia, também sou discipulo do “definitivo” Lemiski, por isso ainda não consegui me desvencilhar do seu grande lema; “Distraídos venceremos”
    A abstração, juntamente com a faculdade da razão, por ser uma capacidade desenvolvida unicamente pela espécie humana, ao mesmo tempo em que nos privilegia, nos distingui também dos demais animais. Com elas vamos humanizando a natureza das nossas relações e as nossa relações com a natureza. Pena que nem todos saibam fazer desse privilegio bom uso. Com certeza, não foi só pelo fato de ter polegar opositor, mas sim, por ter plena ciencia de que a escuridão de muitas mentes é maior do que a escuridão existente no espaço sideral, é que Toninho Cerezo com sua belissima carta nos deu tão grande exemplo da grandeza humana.

  13. Rodrigo disse:

    Engraçado. Não ser politicamente correto, agora, é sinônimo de intolerância, homofobia e preconceito. Cada uma que me aparece…

  14. Martins disse:

    Ainda no ventre, Leandro foi um filho esperado e amado. Na sua infância, seu sorriso doce e os cabelos cacheados não me indicavam qualquer tendência, era apenas uma criança, era apenas meu filho.
    Não precisamos nem ir muito além,uma declaração de pai,que mesmo nas circunstância quer continuar sendo pai,pois,bem o Pai Celeste deixa um manual interessantíssimo a bíblia,isso,para quem crer que a bíblia não só contem a palavra de Deus,mas,que é a palavra dEle,quanto o que entendi do texto ele Cerezo sente a necessidade de que seu filho fosse igualzinho antes sem parecer o que era,continuasse a ser uma criança aos seus olhos,isso,Deus com certeza contempla Cerezo,ele só precisava é entender que o manual da vida,Deus nos deixou é com este manual que devemos criar nossos filhos.Quanto a Jesus a bíblia nos diz que ele veio para salvar não julgar e que as suas palavras dita para a igreja era a que servia para o julgamento que este Deus que nos deu o seu primogênito nos abençoe todos os dias de nossas vida em nome de Jesus Amém.

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