A noite em que Victor fez um milagre e garantiu a vitória

Pouco antes de sair do gramado, cercado por repórteres e considerado um dos personagens da vitória importante do Grêmio sobre o Bahia (2 a 1) na noite desta quinta-feira, em Salvador, o goleiro Victor fez uma espécie de desabafo:

– Nunca deixei de acreditar naquilo que faço e no meu trabalho. Esta atuação mostra por que fui considerado melhor goleiro do campeonato em três anos.

Falou, saiu do cerco dos repórteres e ainda teve tempo de ouvir (e de agradecer) pelos aplausos e gritos da torcida. Ele e a torcida tinha razão: um por estar orgulhoso da atuação, a outra por agradecer pela vitória.

E por  que Victor virou personagem?

Não apenas por uma atuação correta ao longo do jogo, mas por uma defesa excepcional e decisiva aos 41 minutos do segundo tempo. Foi assim: Carlos Alberto entrou pela direita, enganou o marcador e apenas ergueu, na medida, para Jones, colocado na pequena área. O atacante subiu livre e cabeceou firme. Os baianos já se preparavam para comemorar, mas aí surgiu o salto de Victor. Com o braço esquerdo esticado, ele desviou a bola. Garantiu ali a vitória que poderia ter sido fácil, pelo que se viu no primeiro tempo, mas que acabou complicada no segundo.

Com a vitória, o Grêmio subiu para o 13º lugar, com 27 pontos, a seis do Atlético-MG, que é o primeiro da zona de rebaixamento. Mais importante: conseguiu duas vitóirias na sequência, mostrando que está em clara fase de ascensão.

Victor foi um dos personagens – mas não foi o único.

Na fase inicial, o Grêmio teve uma de suas melhores no Brasileirão. Tudo funcionou. O esquema de Celso Roth funcionou de novo e o time passou a envolver, dominar e por último sufocar o Bahia.

No meio, Marquinhos, Douglas e, principalmente, Escudero, movimentavam-se com inteligência, trocavam passes certos, deixavam os marcadores do Bahia atordoados. Na lateral-esquerda, Júlio César voltava a confirmar que foi um dos maiores acertos do clube no ano. Chegou, assumiu a posição e por seu lado o Grêmio consegue algumas de suas melhores jogadas.

Neste período, o Grêmio teve oito chances de gol, fez dois (Brandão e Escudero) e ainda perdeu um pênalti (chute alto demais de Douglas). Foi um sufoco: em alguns momentos, como no gol de Escudero, aos 35 minutos, a jogada foi espetacular. Douglas deu um drible elástico no marcador e cruzou de direita. Brandão cabeceou no travessão. Na volta, Escudero acertou de primeira, em cheio.

Um minuto antes, na mesma jogada, o Grêmio tivera duas oportunidades de marcar: na primeira, chute de Rochemback e defesa de Tiago; na volta, chute de Brandão e bola desviada no zagueiro. Aos 28, o mesmo Brandão fizera o primeiro gol, ao aproveitar excepcional jogada de Júlio César pela direita.

Foi um primeiro tempo de domínio absoluto, com um único reparo: a incapacidade de aproveitar as chances de gol, que surgiram a todo momento.

Na fase final, tudo mudou. Em parte, pelo cansaço de alguns jogadores importantes (Escudero e Marquinhos, principalmente), em parte pela melhora do Bahia. O Grêmio passou a errar, a não reter a bola, a não se movimentar como antes.

Foi uma inversão absoluta. As chances passaram a ser do Bahia. Foram pelo menos cinco, três grandes defesas de Victor. Tudo piorou aos 11 minutos, quando o árbitro errou de novo e deu pênalti de Edcarlos e Reinaldo. Não foi o pênalti no primeiro tempo, dado a favor do Grêmio (a falta foi fora da área), não foi este em Reinaldo (os dois jogadores apenas disputaram espaço). Na cobrança, Souza descontou aos 12 minutos, com um chute rasteiro, no canto direito.

O Bahia passou a perseguir o empate, Roth fez trocas (Adílson em lugar de Escudero, Leandro no de Marquinhos), a vitória chegou a ficar ameaçada e poderia virar empate se Victor não fizesse uma espécie de milagre aos 41 minutos.

Agora, o Grêmio volta a Porto Alegre para tentar sua terceira vitória em sequência, desta vez contra o São Paulo, um dos líderes do campeonato. Sem Rochemback, deve voltar Gilberto Silva. Mais importante: sem a pressão da parte inferior da tabela.