Os incidentes dos últimos dias no Espírito Santo mostram o pior do ser humano, aquele lado selvagem habitualmente controlado pelos mecanismos sociais, mas que, em alguns momentos, entra em pane.
Bastou a polícia sair das ruas para que as cidades virassem território livre para os crimes – e não apenas de marginais, é bom ressaltar.
As imagens mostram claramente as pessoas comuns, os chamados ‘cidadãos de bem’, tão na moda nos últimos tempos, aproveitando-se da confusão ou da liderança de algum criminoso para invadir e saquear.
Há poucos dias, uma pessoa indignada publicou imagens do saque a um caminhão nas redes sociais. Bastou o veículo se acidentar para que as pessoas – novamente o ‘cidadão de bem’ – parassem os carros na estrada para encher os porta-malas com os produtos tirados do caminhão. Mais incrível: o autor das filmagens chegava perto, criticava a atitude quase aos gritos, e ninguém ligava, nem largava os pacotes roubados.
É o lado selvagem que produz também justiceiros e linchadores. Em algum momento, por falta de controle, ele fica exposto, perigosamente. É o lado ético que só aparece no discurso e que é abandonado quando ninguém está olhando ou controlando.
Estes, sim, devem dar medo.
Mário,
Moro em uma cidade do interior. O comércio está com portas fechadas e minha diretoria sugeriu que eu fique em casa para preservação da minha integridade física.
A coisa está feia.
Ora, ora, Mário. Quem rouba, quem saqueia, pode ser tudo menos cidadão de bem.
Podem “se quedar tranquilos”. O Exército já vai cuidar de mais essa. Como agradecimento, podem tirar mais direitos trabalhistas da única classe que não faz greve nem tem sindicato. Depois de 15 anos, o Brasil afia a faca para sangrar os militares mais um pouco.
Só nos últimos dois meses mais de mil militares do Exército, de carreira, pediram reserva. Dos aprovados nos concursos para oficial, 20% não se apresentaram. E ainda querem piorar a situação. Que fase… Mas para que que estou reclamando aqui? Afinal isso é um blog esportivo, kkkkkkkkk
Não menosprezando o Blog, evidentemente. Só para deixar claro MM. A minha autocrítica a falta de sentido de minha reclamação é de que no fim só estou falando por nada, em um post em que o assunto nem pauta é. Espero não ter sido mal educado.
Não, de jeito nenhum.
Se não me engano é culpa do Lula, da Dilma, dos petralhas esquerdopatas, dos direitos humanos, do papai noel (vermelhos malditos), da Maria do Rosário e do gigantismo do Estado-que-se-mete-onde-não-deve. Já que bandido bom é bandido morto, e o livre mercado nos redimirá da sanha totalitária ditatorial estatizante castradora das liberdades individuais meritocraticas. Ah, sim! É claro! A saída continua sendo o Salgado Filho. Blerghs!!!
MM, eu sou um cidadão de bem. E não me aproveito de tragédias alheias para tirar vantagem. Não venha com esse teu esquerdismo doente querer jogar todos no mesmo balaio. O que está acontecendo lá é a triste realidade da ‘venezuelização’ que estão querendo patrocinar no país.
Velha mania de largar o debate para rotular. Mas, enfim, paciência. Eu também jamais faria isso, estou apenas me referindo aos que fizeram. O que tem de esquerdização aí? Outra: o Espírito Santo foi um dos Estados que adotaram o programa de controle rigoroso de gastos. Deu no que deu. O que tem a ver com venezualização? Este não era um problema do governo anterior? Um dos nossos problemas – e aí falo de maneira geral – e a dificuldade de manter o debate com base no que está em discussão.
A questão não é o controle de gastos, e sim que os estados estão falindo. A economia está colapsando. Não é coisa de um partido. O roubo foi tanto que a conta não fecha mais. Não digo nem o roubo, que o roubo é despesa eventual, mas inflacionaram tanto os gastos públicos que a conta mensal é insustentável.
É como se o orçamento doméstico fosse impagável. A corrupção é como um marido que torra o dinheiro na esbórnia. É prejuízo, mas se parar, as contas se pagam. O problema são as receitas ordinárias gigantescas.
Recomendo uma leitura aos teus leitores, se me permite
(Alguns membros da sociedade seguem leis, outros não, e para estes últimos existem a polícia, o judiciário e, se necessário, o sistema prisional. – Alexandre Borges)
Ver no Medium.com
Muito oportuno. Apenas para ilustrar, note como o comentarista germânico aí em cima faz de conta que não é com ele e sua tribo.
Não me entenda mal Rafael. O “comentarista germânico” tá padecendo das mesmas mazelas sociais e econômicas que o brasileiro comum. Apenas reclamando da insistência de segmentos da sociedade em culpar a esquerda, em chamar esquerdismo de idiotice, em apregoar a lei do talião como solução e em ignorar que o capitalismo praticado no Brasil alimenta as desigualdades de maneira cruel, achando que o liberalismo é solução, sem reconhecer legitimidade em quem discorda.
Em poucos lugares no mundo o discurso de esquerda tem tanta guarida como no Brasil, mesmo que suas teses tenham se provado sobejamente de aplicação desastrosa.
O caos no Espírito Santo ilustra bem o que o desencarceramento de criminosos e a quebra de hierarquia nas hostes policiais, resultantes privativamente da concepção esquerdista, podem fazer à sociedade.
Mas, mesmo com essa tragédia conceitual nutrida pela esquerda, não deixamos de – como você diz – reconhecer legitimidade em quem discorda. No entanto, a paciência se esgotou com certos absurdos, o que fica demonstrado cada vez mais consistentemente nas ruas, nos meios eletrônicos e, principalmente, nas urnas.
Ah, um governador (que não pertence ao vilão preferido) aplica a política recomendada, de enxugamento da máquina, congela salários, arrebenta com o Estado e a culpa é da esquerda?
1. O receituário de austeridade geralmente só é implantado quando o grande estrago já está feito, quando o correto seria adotá-lo como prática contínua. Mas infelizmente a demagogia e o populismo eleitoreiros falam mais alto.
2. Quando se fala em enxugamento da máquina, há de se levar em conta a incrível dificuldade de fazê-lo, pois a legislação contempla a estabilidade aos funcionários públicos, barreira quase intransponível para a correção de gestões perdulárias, mesmo em se tratando de funcionários incompetentes e indolentes. O que se vê, então, são enxugamentos meramente cosméticos, sem o impacto necessário nas contas públicas. No caso específico do Espírito Santo, a máquina continua tão inchada como na maioria dos demais estados, apresentando um déficit previdenciário de R$ 1,7 bilhão.
3. A dependência histórica dos royalties do petróleo (como também é o caso do Rio de Janeiro) impôs uma queda brutal na arrecadação capixaba, causada pelo descalabro administrativo e corrupção desenfreada na Petrobrás durante a gestão petista, que praticamente quebrou a empresa, só não entrando em falência especificamente por ser estatal.
4. O governo Dilma deu continuidade a um dos maiores esquemas de aparelhamento político e corrupção da História, implantados pelo seu antecessor, com o adendo de desmontar a economia, elevar os gastos públicos muito além da arrecadação e maquiar as contas públicas, o que redundou em seu impeachment.
5. Não bastasse o caos administrativo em nível federal, que contaminou as já combalidas e mal geridas finanças capixabas, lá também houve – como de resto em praticamente todo o Brasil – a proliferação de certas culturas, de origem marcadamente esquerdista. É o caso da cultura da greve, que desrespeita os direitos dos demais cidadãos no atendimento de serviços essenciais e indelegáveis, como é o caso da segurança pública. Outro fator é a cultura do crime, onde bandidos são considerados invariavelmente vítimas da sociedade (com exceção de seus adversários políticos) e por isso contam com a tolerância irrestrita de autoridades contaminadas por esse discurso. Some-se a esse caldo a cultura do desarmamento, que tirou do cidadão o direito de portar uma arma para proteger a si e a sua família, gerando uma janela de oportunidade para a criminalidade crescer e prosperar, situação que se agudiza em momentos de total inércia do poder público, como é o caso atual do Espírito Santo.
6. Por fim, não admira o cinismo de quem afirma não ter nada a ver com o caos que presenciamos, pois essa atitude também faz parte da estratégia de quem o plantou.
Bem, depois deste novo choque de realidade, talvez alguns abandonem a ingênua noção de novo homem.
De ladrões de carcaças a saqueadores.
Raça de víboras.